sexta-feira, junho 22, 2007

Joaquim Narciso Bahia

- do Africanista ao Homem Público
Nasceu em Celorico de Basto a 19 de Novembro de l899.
Tendo completado o curso dos liceus no Colégio Almeida Garrett do Porto, foi para Angola, onde viveu e trabalhou até aos quarenta e dois anos. Foi durante muito anos, Delegado da Diamang na Companhia de Pesquisas Mineiras, em Cabinda, onde granjeou simpatias e louvores, pelo notável trabalho desenvolvido, honestidade e grandeza de carácter.
Dentro da Companhia, criou planos sociais para os trabalhadores, na sua maioria nativos, que foram considerados modelos exemplares naquelas regiões africanas. No ambito desses Planos, os familiares dos trabalhadores auferiam ajudas financeiras, assistência médica, escolar e outras que permitiam excelentes resultados, em termos de fixação no trabalho, responsabilidade e rendibilidade, apesar do clima e das zonas inóspitas onde se desenvolviam as acções, como por exemplo, o coração do Maiombe, uma das maiores florestas angolanas.
Os seus superiores hierárquicos não foram os únicos que souberam reconhecer os bons préstimos recebidos por este Homem que jamais fez sobrepor os seus interesses pessoais aos interesses de grupo.
A prova mais insofismável que assim era, aconteceu, quando um dia teve que regressar, por motivos familiares, ao Continente Português. Os trabalhadores ao tomarem conhecimento da sua partida, "convocaram" uma reunião popular que agrupou milhares de pessoas, a fim de, ao som de instrumentos, choros e dançares, lhe poderem manifestar, de uma forma simples mas sincera, um reconhecimento sem limites...
Casado com D. Maria Leonor da Cunha Machado Bahia, teve quatro filhos, Mário César, Maria Helena, António Fernando e Jorge Manuel Machado Bahia.
Após o seu regresso definitivo à sua terra natal, dedicou-se, numa primeira fase, à exploração agrícola, chegando a estar entre os maiores produtores de vinho verde da Região de Basto. Foi fundador e sócio-gerente da firma Exportadora Lusa de Terras de Basto, Lda., através da qual se comercializaram as conceituadas marcas de vinho verde, "Verdebasto" e "Marão", que muito ajudaram a projectar, para além fronteiras, o nome de Celorico de Basto. Infelizmente, um inesperado contencioso entre os governos de Portugal e do Brasil, ocorrido no princípio da década de cinquenta, deitou por terra alguns anos de muito trabalho e fundadas esperanças.
Foi, então que, de uma forma altruísta e desinteressada, numa época em que as autarquias e instituições das regiões rurais não contavam, praticamente, com ajudas financeiras de qualquer espécie, passou a colaborar - valendo-se da sua enriquecedora experiência de vida - com Organismos que, directa ou indirectamente, iam chegando às populações.
A Casa do Povo de Celorico de Basto, fundada em 1943, teve um notável incremento com a entrada de Joaquim Narciso Bahia para os Órgãos Sociais, na década de cinquenta.
Segundo o livro "Celorico de Basto", editado por Carlos de Sousa Machado, com a colaboração de Ernesto de Balmaceda, a grande e importante obra levada a cabo pela Casa do Povo desse tempo - que tantas famílias celoricenses beneficiou - ficou a dever-se ao seu Presidente da Assembleia Geral, Joaquim Narciso Bahia, "homem de boa vontade e de sábia orientação" que, "sem cal nem estuque" lhe consagrou vários anos da sua vida. O mesmo aconteceu, aliás, com todo o Concelho, através das várias instituições por onde passou, desenvolvendo valiosas e altruístas acções humanitárias.
Alguns exemplos de outras Colectividades, Organismos ou Instituições a que também esteve ligado:
- Câmara Municipal - Vereador, Administrador e Vice-Presidente
- Santa Casa da Misericórdia e Hospital de Arnóia - Provedor
- Asilo dos Desvalidos - Presidente
- Bombeiros Voluntários Celoricenses - Vice-Presidente
- Adega Cooperativa de Celorico de Basto - Fundador e Director
- Caixa de Crédito Agrícola - Presidente
- Assistência Social - Delegado concelhio
Sem querer minimizar qualquer das instituições referidas, o Hospital da Santa Casa da Misericórdia, foi, para além da Casa do Povo, aquela que lhe mereceu maior atenção e carinho, quiçá pela natureza dos seus propósitos, quiçá pela precariedade de recursos existentes.
Convidado em finais da década de quarenta para Provedor, pelo seu antecessor, Dr. Francisco Meireles, não obstante todo o esforço desenvolvido antes, o novo Provedor foi encontrar o Hospital - fruto de uma difícil situação financeira - num estado de grande carência e organização. Assim, uma das primeiras medidas tomadas foi continuar a impulsionar os cortejos de oferendas - forma de colmatar os bem precários recursos da Santa Casa.
O bloco cirúrgico foi reequipado, as enfermarias melhoradas, o número de camas aumentado e, com elas, o número de doentes assistidos. Além dos profissionais de medicina e cirurgia locais, o apoio à cirurgia foi reforçado com especialistas do Porto que passaram, regularmente, a fazer parte das equipas médicas.
Durante anos, para além das actuações normais a que se obrigava pelo cargo que assumira, Joaquim Narciso Bahia visitava, frequentemente, os internados no hospital para quem tinha sempre uma palavra de conforto e de carinho.
Gestos como este, e a sua dedicação a tão nobre causa, faziam-lhe granjear simpatias entre a gente humilde de Celorico que, em atitudes simples, despidas de encobertos interesses, prestava-lhe, constantemente, homenagens anónimas de sincero e desinteressado reconhecimento.
Um dia, referindo-se a Joaquim Narciso Bahia, alguém ouviu dizer à Madre Directora da Instituição desse tempo; "como estariam melhores os doentes deste pais se houvesse muitos Provedores assim?!..."
Efectivamente, tive o privilégio de conhecer e partilhar algumas conversas com o Senhor Bahia das Casas Novas, que evidenciava enorme perspicácia e vivência social, colocando sempre um grande sentido de humor nas suas palavras.
Joaquim Narciso Bahia faleceu no dia 30 de Maio de 1989.
Apesar de tudo, por "obra de quem sabe ou esquecimento de quem teme", ainda hoje é o único Provedor desaparecido que não tem a sua fotografia na "galeria dos notáveis" do antigo Convento de São Bento de Arnóia, em Celorico de Basto.

4 comentários:

Anónimo disse...

Senhor Orlando Silva

Acabo de ter o privilégio de ver o seu blog sobre a vida de meu Pai. Fiquei muito sensibilizado, como poderá imaginar, ao verificar, que, após a sua morte física, houve, finalmente, um Celoricense de ilustre carácter, que se dignou historiar a vida de uma personalidade pública, natural de Celorico de Basto, que tanto lutou pela sua terra natal e suas gentes.
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Orgulho-me de ser seu filho e saber-me ao lado de gente humilde da nossa terra que, ao longo dos tempos, sempre soube reconhecer e agradecer ao Homem, cuja preocupação maior foi pugnar pelo bem comum, sem nunca esperar por quaisquer outras contrapartidas que não fossem as morais.

Bem haja, Sr. Orlando Silva

Porto, 23 de Junho de 2007

Jorge Bahia

Anónimo disse...

Não nasci nem vivi em Celorico. Tive, no entanto, o enorme privilégio de passar as férias grandes, enquanto jovem, nessa espantosa e agora mui amada terra.

Conheci o Sr. Bahia e a sua afável e hospitaleira forma de ser. Nunca viajava de carro, entre a Vila e a sua casa, sem levar todos os que palmilhavam a estrada, novos ou velhos. também eu usufrui dessa sua generosidade, vezes sem conta.

Quando estávamos cansados e o motor de um carro se ouvia ao longe, o nosso pensamento enchia-se de esperança que fosse o Sr. Bahia (ou um dos taxistas da época, que também levava as pessoas gratuitamente, se regressasse de um serviço - creio que se chamava Cerqueira).

A memória não é tudo. A minha liga-o a um cão enorme, que tinha à época, dotado de um porte assustador. Num dia em que fui convidado a brincar no interior da propriedade, o Dragão (espero não errar no nome) mostrou que tinha tanto de grande quanto de manso.

Bons tempos.

Unknown disse...

Meu tataravô se chamava Francisco Alves Leite na sua menor idade assinava Francisco Alves Pereira de Magalhães; nasceu em Celorico de Basto, Portugal, no dia 2 de outubro de 1848, filho de Joaquim Alves Pereira e de Thereza Alves Leite; eram seus avós paternos José Alves Pereira e Antonia Quitéria de Souza, maternos, Joan Manoel Teixeira e Custódia Alves Leite; foi batizado na Igreja de São Thiago de Carvalho, Conselho de Celorico de Basto, pelo vigário José Barthazar Leite, no dia 4 de outubro de 1848. Veio para o Brasil pelo paquete inglês “Tyne”, com a idade de 13 anos e chegou no Rio de Janeiro no dia 4 de outubro de 1861; logo seguiu para a cidade de Franca, Estado de São Paulo, onde fixou sua residência e domicilio, onde viveu até o seu falecimento no dia 30 de outubro de 1933, as 3 ½ horas da tarde”. Creio possuir nessa terra distante muitos parentes (segundo meus cálculos o meu antepassado que veio de Portugal deve ser meu tataravô). Foi pessoa de muito sucesso financeiro, possuidor de milhares de alqueires e fazendas, inclusive parte da cidade de Franca foi construída em suas terras. Se alguém conseguir identificar algo do que eu escrevi e quiser fazer contacto comigo, o meu email leitejj@uol.com.br Abraços e saudações.

Unknown disse...

Era um Homem com "Agá Grande" o meu cunhado Bahia. Humilde por opção, cultivava a bondade e os préstimos que punha ao serviço daqueles com quem lidava. Ocultava as mágoas que sentia, porque eram só suas. Essas não eram para partilhar.
São estes Homens do passado que nos fazem acreditar no futuro, através da marca indelével deixada nos seus descendentes, que são o presente.
Quem esqueceu o passado
Porque passou, já lá vai
Tem um presente impensado
E um futuro que o trai ...

maria alice mangana monteiro